quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

An idea is the most resilient parasite: o início do recomeço para começar um antigo projeto não iniciado.

Feliz 2014! Algumas pessoas são adeptas às chamadas resoluções de ano novo e listam o que pretendem fazer e o que querem deixar de fazer no ano que está começando. Ao final do ano fazem o balanço de sua performance. Não sou tão sistemático, mas sou da opinião que o ano seguinte deve ser melhor do que o que terminou. Com ou sem lista.

Bem, dito isso, hoje, dia 1/1/2014, me parece um bom dia para relançar a semente deste projeto, “Aventura de Magalhães”. O nome do projeto em si já dá uma pista do que eu pretendo fazer.

Há alguns anos, mais precisamente por volta de 2001, eu havia decidido velejar mais seriamente. A vida profissional estava bastante boa e permitia alguns excessos. Fui à diversos “boat shows”, passei a comprar revistas especializadas, a conversar mais frequentemente com pessoas que levavam (e levam) a vida no mar e até mesmo a cogitar comprar um barco. Animado, cheguei, inclusive, a pensar a dar a volta ao mundo velejando, sozinho, o que demandaria uma longa preparação. Porém, devido à problemas financeiros, este projeto foi de certa forma esquecido, levado a categoria de sonho distante.

Muita coisa mudou de lá pra cá. Descobri que certos amigos, eram amigos de ocasião ou nunca haviam sido amigos; descobri amigos que nunca pensei que tivesse; passei por momentos difíceis; comecei a comer carne (passei 38 anos sem comer proteína animal, apenas ovo, leite, queijo e manteiga! E também não era vegetariano, vegano ou equivalente); obtive outra graduação e outra pós-graduação; fiz novos amigos; comecei e terminei vários projetos; me aventurei pelo Brasil, em grande parte a trabalho.

Enfim, a vida continuou e o futuro deixou de ser o dia seguinte e passou a ser a semana seguinte e aos poucos o horizonte de tempo foi aumentando, me permitindo ver com mais clareza e planejar, mesmo correndo o risco de o tempo engavetar definitivamente este projeto. Afinal, aos quase 43 anos, fica cada vez mais improvável conseguir fazer algo tão intrépido com o avançar da idade. O corpo e a mente vão se distanciando. A mente não é mais tão rápida e eficiente e o corpo vai ficando cada vez menos obediente e mais teimoso.

Alguns podem discordar de mim, usando exemplos de pessoas com 60 ou mesmo 70 anos que fizeram façanhas parecidas ou até mesmo mais arriscadas e demandantes, mas elas são exceções. Outras devem estar se perguntando o que trouxe de volta o interesse neste projeto. Na verdade, não acho que existe uma resposta. O que leva alguém a atravessar o Atlântico a remo, a escalar uma montanha, a se aventurar pelo Ártico ou a participar de uma expedição na África? A minha resposta (se é que pode ser chamada assim), na verdade, é um processo decorrente de várias situações e do amadurecimento pessoal, e não de um clique. Se bem que eu levantei um dia e disse: hoje comerei carne. Levei minha decisão à cabo mesmo tendo escutado a vida inteira que era alérgico. Atualmente não vivo sem carne vermelha ou frutos do mar.

Estou cada vez mais insatisfeito com a qualidade de vida das cidades; menos crente com a vida em sociedade "at large"; incrivelmente descontente com o Brasil e seus governantes e, mais ainda, com a falta de mudanças; e mais interessado em abrir novos horizontes, descobrir, viver e entender.

Costumo dizer que vivemos menos que um grego antigo ou romano da época do Império, apesar de termos expectativa de vida maior. Pois bem, acho que passei a querer viver mais, mesmo que exista o risco de ter a vida encurtada. Ainda há tempo de fazer uma média entre viver 100 anos a 10 e viver 10 anos a 100.

Acredito que o tempo foi preponderante na minha decisão. Ele foi responsável por amadurecer e catalisar os elementos necessários que, somados as situações acima e experiências de vida, me levaram a decidir por esta aventura.

Acho que o primeiro elemento formador desta resposta é o desenvolvimento da capacidade de gerenciar adversidades pessoais e situações, no mínimo, complexas. Em alguns casos, um mal menor no presente em troca de um bem maior no futuro é a opção a ser seguida. O difícil é optar por esta decisão. É necessário estar muito além da zona de conforto para considera-la. Do meu ponto de vista, apenas situações pessoais difíceis e limites, como as que eu passei com a minha família, abrem esta via decisória.

Somando-se ao primeiro, é preciso dizer que gosto de ficar sozinho, de dialogar por horas em silêncio unicamente com a minha voz interior. Não é algo tão simples, principalmente quando a cada segundo somos invadidos por solicitações, telefonemas, mídia e etc. Não confundir com solidão, por favor! Não sou eremita, mas gosto muita da minha própria companhia, de ler um bom livro, de ouvir música no escuro, de pescar, andar sozinho, observar e por ai vai.

Mais um que complementa os dois anteriores: a capacidade de avaliar os problemas e situações em terceira pessoa. Isto me permite tolerar por mais tempo situações limites. Não sou imune a elas e como qualquer outra pessoa tenho ponto de ruptura.

Complementando os três anteriores, saber tratar riscos e adversidades com naturalidade. É uma maneira de encarar a vida. Pra mim, um avião não pousa, ele cai controladamente. Para muitos, admitir que o avião está caindo e não pousando, é desesperador, apesar de ser uma verdade. Viver é um risco e andar - o mero colocar um pé na frente do outro - é uma situação de desequilíbrio. Um erro de cálculo e você cai.

Gostar de aprender e, mais ainda, aceitar o aprendizado, é outro elemento importante. Se quisermos e estivermos dispostos a aceitar, a vida é a nossa melhor escola, possivelmente a mais custosa se não tomarmos os devidos cuidados. Realizar uma viagem como esta pressupõe muito aprendizado, tanto antes, quanto durante e, mais ainda, depois. Ninguém, digo ninguém, sai de um projeto como este da mesma forma que entrou. Os valores mudam, a percepção situacional muda, tudo muda. 

Precisarei estudar, e muito, para me preparar, para evoluir até o ponto de poder realizar uma viagem como esta, no menor custo possível e em segurança. Afinal, tempo e dinheiro, são recursos escassos e, ao contrário do segundo, o primeiro não pode ser obtido novamente, sendo a finitude da vida constantemente determinada por nossas decisões, mesmo pequenas. 


Neste percurso a teoria e a preparação prévia serão as minhas melhores aliadas. Não quero ter que aprender a reparar o casco do barco em alto-mar, fazendo água, ou, ainda, trocar as velas do motor, no meio da tempestade. Só se prepara quem aprende e a teoria é o aprendizado de outros que encararam o problema (ou a situação) antes de nós.
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Escuto constantemente absurdos como “a teoria não serve pra nada” e “a minha profissão é prática e não teórica”. São argumentos para negar a possibilidade de evolução própria, pois evoluir envolve compromissos e riscos. Terei que desenvolver habilidades de marinheiro, mergulhador, soldador, técnico de eletrônica, cozinheiro, enfermeiro e várias outras, ainda não sabidas. Para o bem e para o mal.  

Outro igualmente importante, gosto de desafios. Se me disserem que é difícil, que não vou conseguir ou algo remotamente parecido, parece que um “botão de nitro” dentro de mim é acionado. Meus níveis de energia e determinação são aumentados consideravelmente. Não é por menos que já desenvolvi projetos em diversos setores, desde mercado financeiro até mineração, passando por tecnologia, Internet, marketing, energia, logística e construção civil. Quanto maior o desafio, maior a energia e determinação que passo a ter disponível para vencer obstáculos.

Por último e talvez o mais imprescindível, sou ligado ao mar. Nascido e criado no Posto 5, em Copacabana, desde pequeno passava grande parte do ano no mar. Pescando, pegando onda, mergulhando, saindo para alto-mar com o meu já falecido amigo, Adelmar, o Morango, ou recebendo lições de meteorologia e surfe de peito do também já falecido Carlos, o Alemão. Esta ligação está um pouco frágil, confesso, pois atualmente moro em São Paulo, e o "mar" mais próximo é a represa de Guarapiranga. Logo, preciso me reaproximar, voltar a ter a intimidade de outrora.

Admitindo que, de fato, eu esteja apto, agora é possível começar a pensar no que fazer. Antes, porém, existem algumas pré-condições para que este projeto seja concluído. Algumas destas são pessoais, outras profissionais.

Nunca é demais mencionar que não estou entrando de bobo ou sonhador neste projeto. Fui militar, sou oficial da reserva da Marinha do Brasil, aprendi a navegar e passei algum tempo embarcado em viagens de instrução pelo Brasil. Se a vida num navio de guerra não é fácil, especialmente quando existe um grupo para suprir as deficiências individuais, imagine uma viagem num veleiro, sozinho comigo mesmo, acompanhado unicamente dos meus demônios internos.

Continuando, antes de qualquer coisa precisarei saldar compromissos assumidos e encerrar situações. Neste mesmo sentido, será necessário finalizar e entregar projetos. Enfim, arrumar a casa antes de zarpar. "On the top of that", começar pelo começo é um bom ponto de partida. Vamos lá.

1- Velejar bem, sozinho, veleiros de casco único entre 26 e 32 pés.

2- Tirar a habilitação de capitão-amador (já tenho mestre amador, mas preciso renovar).

3- Saber mergulhar bem (com equipamentos e em maior profundidade, até 20-30 metros), efetuar reparos (casco, motor, eletrônicos, velas, e etc.), primeiros socorros, sobreviver em alto-mar, meteorologia, navegar (satélite e astronômica).

Essas três primeiras etapas dependem basicamente de tempo e de muito pouco dinheiro, mas nada elevado, pois existem cursos gratuitos. Gostaria, também, de fazer um curso de fotografia para poder registrar bem as minhas experiências e transformá-las em memória e informação para os meus filhos, especialmente o mais velho que será biólogo e tem grande interesse pela natureza.

Superadas as etapas iniciais, porém indispensáveis, o bicho começará a pegar, pois será necessário:

1- Selecionar o projeto do veleiro.

2- Construir e equipar.

3- Regularizar.

4- Viver a bordo, para me adaptar aos espaços e limitações.

5- Realizar travessias mais curtas.

6- Escolher o roteiro da viagem.

7- Realizar os preparativos.

Fácil, né? Além do desafio, para isso é necessário o vil metal e tempo. Portanto, não é difícil deduzir que se trata de um projeto, no mínimo, de médio prazo (2-4 anos), isso se eu não tiver nenhum acidente de percurso, o que me forçará a reavaliar.    

Como todo projeto, mesmo não sabendo todas as etapas e os recursos que cada uma demandará, é indispensável ter uma data de término para não virar obra de igreja. Zarpar até o preamar da manhã do dia 1/1/2018 me parece uma boa data. Exatos 4 anos de hoje, quando estarei com 47 anos incompletos, o que não impede de eu tentar encurtar ou até mesmo postergar por algum motivo.

Nessa data, meus projetos atuais já terão maturado ou de uma forma ou de outra terminados; meu filho mais velho estará perto de concluir a graduação no ensino superior; o meu filho mais novo estará no ensino médio e, se tudo correr bem e o mundo não acabar, a vida estará estabilizada.

A boa notícia é que na semana passada eu voltei a velejar, ou seja, o projeto começou com alguns dias de crédito. Atualmente estou alternando entre dingue, holder e laser, o que aumenta a sensibilidade, para depois migrar para os  veleiros de dois cascos, entre 14 e 17 pés, mas que possam ser velejados solo. Só depois irei para os veleiros de casco único, começando pelo de 26 pés até chegar os maiores, de 40-50 pés. Ainda não sei ao certo qual será o tamanho da minha futura casa, mas pelo que li tudo é possível  entre 26 e 50 pés, dependendo unicamente do orçamento. As únicas exigências que por enquanto tenho são: casco de aço, cockpit central, pilot house, quilha retrátil e velocidade mínima de cruzeiro no motor de 7 nós.  

Pretendo atualizar este blog com alguma periodicidade, ainda não sei qual, mas com certeza não será bissexta.

Mais uma vez, um feliz 2014!!



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