sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

All is lost

Não posto há algum tempo. Fiz uma viagem de férias por alguns dias com meu filho mais novo e fiquei longe do computador. Com relação ao projeto, pouca coisa mudou.

Assisti a um filme estrelado pelo Robert Redford, na verdade é só ele acompanhado dos elementos durante quase todo o tempo, que reúne os piores pesadelos de um velejador solitário no “meio do nada”. O filme se chama “All is Lost” e não me recordo de ele ter passado nos cinemas brasileiros em 2013.

O drama começa quando o veleiro dele, de fibra de vidro, se choca contra um container à deriva em alto mar enquanto ele dorme. Apenas este começo já ilustra a minha principal preocupação, a escolha do casco/material de construção do meu futuro barco. Se o casco fosse de aço ou até mesmo de alumínio dificilmente a situação teria evoluído. No máximo um “dente” no casco seria o resultado do encontrão.

Além disso, por mais experiente, multitarefas e talentoso que o protagonista aparenta ser, o filme evidencia a necessidade de se detalhar e extrapolar situações de modo a melhor pensar o projeto para preparar as contingências. Por exemplo, a falta de EPIRBs, de um GPS portátil e alguns outros equipamentos e ferramentas que poderiam ter evitado certas situações e facilitado sair de algumas outras.

Enfim, o mais desesperador não é ter se chocado com o container, capotado algumas vezes, ter visto o barco afundar ou ter ficado à deriva num bote salva-vidas. É ter conseguido chegar na rota dos navios comerciais, quase tendo sido literalmente atropelado por eles enquanto a situação vai ficando cada vez mais precária.

Abaixo alguns links interessantes sobre o filme para quem se interessar.

http://www.imdb.com/title/tt2017038/

http://www.youtube.com/watch?v=Lk_R04LfUQU

http://en.wikipedia.org/wiki/All_Is_Lost


sábado, 18 de janeiro de 2014

Mar sem fim, Amyr Klink

Há alguns anos li o livros, mas não sabia que haviam feito um documentário. Fiquei sabendo pelo canal Curta. Depois de procurar no You Tube, encontrei em seis partes, mas não assisti e por isso não sei se a qualidade é boa e se está completo. 



quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Situações em alto-mar.

Alguns vídeos bem interessantes, e nem por isso menos assustadores, sobre possíveis situações em alto-mar:

1)      Atingido por uma baleia: http://www.youtube.com/watch?v=SUbVC9Dj33g
7)      Homem ao mar: http://www.youtube.com/watch?v=4gQbDzXAOdY

sábado, 11 de janeiro de 2014

Aço ou alumínio, eis a questão.


Nos últimos dias li bastante sobre aço e alumínio utilizados na construção de cascos. Como tudo, existem prós e contras em cada um deles. Talvez, a minha pergunta inicial (qual é o melhor material para construir o barco?) deva ser substituída por outra, qual é o melhor material para o uso que pretendo dar ao barco? Não são perguntas com respostas mutuamente excludentes, ao contrário o material é uma função do uso que se pretende dar ao barco ou, melhor, por onde ele singrará. 

Bem, cruzeiros transoceânicos, ao contrário da navegação costeira, não estão sujeitos a encontros com rochas, recifes e similares com grande frequência. Entretanto, em algum ponto o cruzeiro se torna, por determinado período, navegação costeira. Ao contrário da navegação costeira, apesar das grandes dimensões dos oceanos, com alguma frequência, especialmente em algumas partes do mundo, os encontros com contêineres e lixos de grandes proporções não são raros. Grande animais, como baleias, eventualmente também podem se chocar contra o casco. 

Outro aspecto importante está relacionado com os desafios específicos de onde se pretende ir. O primeiro exemplo (e possivelmente o mais extremo são as regiões congeladas). Tal como o aço, o alumínio também pode ser empregado em cascos destinados a barcos destinados a visitar locais gelados e permanecer em contato com o gelo, resistindo tanto a pressão dos grandes blocos de gelo como também a eventuais choques com icebergs. Assim, se a ideia é visitar todos os cantos do mundo, tanto um quanto o outro, desde que corretamente isolados, podem ser igualmente utilizados com as corretas precauções e adoções dos materiais apropriados nas especificações requeridas. Até ai, empatou. 

Portanto, a navegação transoceânica engloba riscos maiores do que a costeira. Se o critério fossem apenas, estes, bem os dois poderiam ser perfeitamente utilizados como substitutos um do outro.  

Existe, por outro lado, um aspecto relacionado com a menor densidade do alumínio que é imbatível. Se, por absurdo, imaginarmos dois projetos idênticos, com o mesmo tamanho, o barco em alumínio seria mais leve. A implicação direta é o melhor uso "da sobra de peso", tendo em vista um mesmo deslocamento, para aumentar os tanques de água e combustível. Ao se fazer isso aumenta-se consideravelmente a autonomia e a segurança nas grandes travessias. 

Autonomia e segurança têm grande importância para mim. Li em blogs alguns relatos de pessoas que estão circunavegando o globo. Longos períodos sem luz solar ou vento impedem que a transformação de água salgada em água potável por unidades dessalinizadoras. Para suprir esta deficiência é necessário utilizar o motor para carregar as baterias internas e fornecer a energia necessária para o processo. Ok, tudo bem. Todavia, nos dias de hoje, os barcos contam com um grande número de equipamentos necessários para navegação, comunicação e várias outras tarefas, e todos eles necessitam de energia elétrica para funcionar e ambiente com determinados níveis de umidade e temperatura.

Já é possível ver onde pretendo chegar, mas não custa dizer: já imaginou ter que escolher entre comer/beber e ligar o GPS ou o radar? O algo aparentemente menos importante, como a climatização, mas que depois de 30 dias no mar, 500 milhas da costa, é um dos poucos confortos que se tem e que ajudam, e muito, a manter o ânimo para cima e a sanidade necessária para tomar decisões.   

Posso dizer que estou em dúvida ainda e preparei o resumo abaixo dos principais argumentos para me ajudar a decidir. Enfim, nada fácil! Acho que o próximo passo é analisar projetos que de alguma forma sejam equivalentes para verificar se possuem, ao menos, condições para fornecer a mesma autonomia.

Resistência:

Aço: Maior resistência à abrasão e perfuração, maior dureza comparativa, com menor deformação por pressão (ductilidade), dificultando a absorção de impacto. 

Alumínio: O alumínio é mais resistente do que o aço se comparado em mesmo peso, sendo 10 vezes mais resiliente. Porém, não possui a mesma resistência à fatiga (dobra e ruptura) que o aço, requerendo testes específicos (e caros) para determinar a qualidade. A fatiga leva a rachadura/ruptura do casco. O problema é que o ponto de fatiga do alumínio ainda não foi determinado, devendo ser avaliado durante a construção. A ruptura por fatiga pode acontecer em situações diversas.

Calor e som:

Aço & Alumínio: Da mesma forma que o alumínio, o aço é excelente condutor de calor e som. Necessita, portanto, de correto isolamento termo-acústico apropriado. 

Reparos:

Aço: É relativamente fácil encontrar mão-de-obra qualificada, equipamento e material em qualquer parte do mundo não é problema. O custo é comparativamente menor do que em alumínio. Entretanto, o processo de soldagem demora mais tempo do que no alumínio. 

Alumínio: Os equipamentos e materiais de soldagem são mais caros comparativamente aos do aço. Adicionalmente, o processo de soldagem somente pode ser realizado no seco, em local estável e seco, dificultando os reparos no meio do oceano. 

Ameaças ao material:

Aço: A corrosão pelo contato com o ar (corrosão) e corrosão galvânica. A corrosão pelo ar de metais ferrosos, como o aço, corrói e deteriora a superfície. Para minimizar a corrosão é necessário proteção específica, normalmente feita por pintura e lixamento da superfície.  Apesar de sujeito à corrosão galvânica, é menos suscetível que o alumínio. 

Alumínio: Eletrólise (corrosão galvânica). O alumínio é um material não ferroso, mas está sujeito à oxidação. Porém, ao contrário do que ocorre com o aço, a superfície não sofre deterioração ou corrosão. Durante o processo de oxidação é formado o óxido de alumínio (Al2O3), que se manifesta como uma película fina que serve de proteção, apesar de reduzir o brilho. Com isso, a oxidação fornece certa proteção ao material, ao contrário do que ocorre com o aço. 
A corrosão galvânica bimetálica é um processo eletroquímico em que, considerando 2 metais diferentes, um metal sofre corrosão preferencialmente em relação a outro quando os dois metais estão em contato elétrico e imersos em um eletrólito. Este processo ocorre com a formação da pilha eletroquímica, que necessita de anodo (metal menos nobre), catodo (metal mais nobre) e solução salina (eletrólito). Ele pode ser mitigado mediante o isolamento dos metais condutores de energia elétrica existentes no barco, evitando a sua “fuga” para a água salgada (rica em eletrólitos). Adicionalmente, utiliza-se outro metal, no caso o zinco, o chamado “metal de sacrifício”, que atua como anodo. 
Os anodos são instalados em locais estratégicos, cujo propósito deles é sofrer a corrosão, e por conseguinte devem ser trocados com certa periodicidade. Seus pesos e tamanhos devem ser calculados de acordo com determinados parâmetros e para isso existe a seguinte fórmula: http://www.boatzincs.com/anode_weight_calculation.html. Além disso, existem detectores de corrente galvânica que podem ser instalados, permitindo verificar a qualquer tempo o desempenho das medidas de precaução adotadas. Vale salientar que o aço também está sujeito a este mesmo tipo de corrosão 
Grande parte da corrosão galvânica é resultante do contato entre alumínio e aço. Portanto, na construção não podem ser utilizadas peças deste último material. Da mesma forma é necessário escolher/guardar/isolar utensílios, equipamentos e ferramentas de metal, de modo a evitar o contato direto com o alumínio. 

Peso:

Aço: O peso pode ser um limitador quanto ao local no qual serão realizadas as manutenções, pois, dependendo do tamanho, pode ser que o equipamento para erguer/retirar da água não suporte o peso. 
O peso maior significa maior deslocamento, reduzindo a performance geral. Da mesma forma, o peso dificulta a realização de manobras. Com o aumento do peso e do deslocamento, o remanescente para equipar e preparar o barco é menor, obrigado a realização de escolhas que reduzirão eventualmente o conforto. Devido ao maior peso, a âncora será mais pesada dificultando o manuseio por uma única pessoa. Aumentando o deslocamento, aumenta-se o consumo de combustível do motor, necessitando de tanques maiores para atingir a mesma distância. O maior peso e deslocamento requer maior área velica e, consequentemente, maior tripulação para regulá-la. O maior peso pode ser transformado em maior estabilidade, aumentando o conforto. Reduz, também, a tendência a rolar. 

Alumínio: Devido à sua menor densidade, o peso de uma chapa de alumínio comparativamente ao de uma chapa de aço, considerando que as duas possuem as mesmas dimensões, é cerca de 50-60% menor. O peso menor significa possível economia nos sistemas internos, como aparelho (massame, poleame e velame), transmissão, motor e etc. Da mesma forma, permite o aumento da autonomia do barco (combustível, água, menor motorização). 

Custo:

Aço: O custo de tratamento e pintura contra corrosão reduz a diferença de custo de construção. O tratamento deve ser feito em toda a superfície exposta ao ar, não apenas a água. Por conta do tratamento, o início dos trabalhos pós-casco demoram mais. 

Alumínio: O custo de construção é maior, porém em termos relativos o custo do casco se situa entre 15% e 20% do custo total do barco. Comparativamente, o custo do alumínio utilizado na construção de barcos é 2-3 vezes maior do que o do aço para o mesmo propósito.

Resistência:

Aço: O aço é um material mais nobre do que o alumínio, e está acima na escala galvânica. 

Alumínio: Da mesma forma que o alumínio, o aço é resistente ao fogo, sendo não combustível e não inflamável. As ligas de alumínio perdem resistência quando são soldadas, o que não ocorre com o aço. Para reduzir este efeito é necessário reforçar, representando aumento de peso. Cuidados maiores devem ser tomados com o controle de qualidade da soldagem, especialmente no tocante à resistência contra pressão e à corrosão galvânica. 

Manutenção:

Aço: Pontos de fratura e corrosão são difíceis de localizar, dificultando a realização de manutenção. 

Alumínio: Especial cuidado deve ser empregado no sistema elétrico, de modo a evitar que o caso sirva de condutor. Em nenhuma hipótese isso pode ocorrer, sob pena de ocorrência de eletrólise. 

Preço de revenda:

Alumínio: Significativamente maior do que o do aço. O valor depende diretamente do que se encontra agregado ao barco. 

Outros problemas:

Aço: Magnetização com consequente interferência nos equipamentos abordo, mas especificamente da bússola. Maior barulho e vibração. Se, por um lado, o aço apresenta maiores problemas acima da linha da’ água, os problemas do alumínio se situam com mais frequência abaixo dela. 

Tamanho:

Aço: Em tamanho menor do que 40 pés, o centro de gravidade não é mais baixo, apesar do peso ser maior, fazendo com que o design fique “estranho”. Se o peso é uma consequência direta do tamanho, considerando-se que as consequências da diferença de peso somente são reduzidas em tamanhos maiores e levando-se em consideração que o maior peso requer mais trabalho e maior tripulação, quanto maior o tamanho do barco em aço mais difícil é a sua condução por uma pessoa só. 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Ampliando a lista de designers e projetistas de barcos.

Pois bem, a busca por projetos e designers continua. Enquanto eu não me decidir pelo material de construção (Sim, estou em dúvida entre aço e alumínio. Qual é o problema?!?) a lista só tende a aumentar. Estou aproveitando a minha busca para separar, também, algumas idéias e conceitos que acho interessantes, mesmo que utilizados em projetos destinados a outros materiais. Antes que alguém faça a seguinte pergunta, "não é possível usar um projeto de fibra e construí-lo em aço?", já adianto a resposta: não, não é!

A lista abaixo complementa o post "Lista de designers e projetistas de barcos, mais especificamente veleiros", do dia 06/01/2104. Ela inclui alguns fabricantes de barcos "em série" e "quase comerciais", cujos projetos são muito interessantes. Na grande maioria das vezes não produzem veleiros em aço ou alumínio. Mais na frente eu escreverei um post com os modelos que me interessam no material escolhido.
































Gustavo Rodriguez: http://www.nauta.com.ar/

Guy Ribadeau Dumas: http://www.ribadeaudumas.com







Jean-Pierre Brouns: http://www.brouns.fr/







Judel-Vroljk & Co: http://www.judel-vrolijk.com/












Martin de Jager: http://www.jensdesign.nl


McCurdy & Rhodes: http://mccurdyandrhodes.com/




Mortain & Mavrikios: http://www.mortain-mavrikios.com/










Peter Bruun-Badebyggeri: http://www.peterbruun.dk/





Redman Whiteley Dixon: http://www.rwd.co.uk/






















Steve Thompson: http://www.tboat.com/






Van Dorresteijn: http://www.vdddesign.nl








segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O que acontece quando um veleiro capota?

O vídeo, apesar de longo, é bastante interessante e ilustrativo. Notem que o veleiro pára a 180°, o que não é ideal, pois o ele deveria completar a volta, fazendo um 360° completo provocado pelo peso da quilha e com a ajuda de um mastro bem projetado e estanque. No caso do vídeo, a volta é completada pelo guindaste, ou seja não pelos próprios atributos do barco. http://www.youtube.com/watch?v=1mhCYcztA8E

Vira, vira, vira, virou.....

Vale a pena assistir até o final: http://www.youtube.com/watch?v=5ggH9UGkz6A

A história do naufrágio recente do veleiro Bounty na costa leste dos EUA.

Esta é uma das histórias que fazem parte do dia a dia de quem está no mar, longe da costa, e no caminho de um furacão: http://www.tampabay.com/specials/2013/reports/bounty/

Lista de designers e projetistas de barcos, mais especificamente veleiros.

Alguns dos designers, cujos projetos estou avaliando, estão listados abaixo. Excetuando um (Bruce Roberts, pois a maioria acha que os projetos dele estão ultrapassados e por isso têm baixo valor de revenda), os demais são nomes muito bem recomendados pelos participantes dos diversos que me inscrevi para sair da minha ignorância quase que absoluta sobre o assunto.

O interessante é observar as tradições. Os americanos utilizam mais madeira e fibra de vidro (foam-fiberglass), enquanto os europeus, principalmente os franceses, holandeses e noruegueses projetam mais em alumínio e aço.   





François Lucas: http://www.fr-lucas.com/
Jean-François Andre: http://www.jfandre.com/


Olivier van Meer: http://www.oliviervanmeer.com/

Oswald Berckemeyer: http://www.berckemeyer-yacht.de/

Roberto Barros (Cabinho): http://www.yachtdesign.com.br/



Yves-Marie de Tanton: http://www.tantonyachts.com/index.htm

Pois bem, já tenho uma lista de nomes. Porém, um item que eu estava certo quanto à escolha, e que influencia todo o restante, está travando o meu avanço: o material construtivo (aço ou alumínio). Farei uma lista comparativa de prós e contras, o que demandará alguns dias, para depois me decidir. Publicarei aqui tão logo ela fique pronta.

Boa noite!

sábado, 4 de janeiro de 2014

Será que são os meus olhos azuis?

Devo estar fazendo algo certo ou será que são meus olhos azuis? Nas últimas 48 horas comecei a receber diversas mensagens de pessoas em todo o mundo. São velejadores solitários, construtores, engenheiros e arquitetos navais, dentre outros. Cada um contribuindo informações ou experiência. Fiquei impressionado com a camaradagem! Entre eles Robert (Bob) Perry, reconhecido mundialmente por construir barcos de competição, com diversos prêmios.

O alerta de alguns é bastante alto e claro: não entre neste projeto se você não tiver a energia e recursos para leva-lo até o final, caso contrário perderá tempo, dinheiro e se frustrará imensamente no caminho. Bem, com todo o respeito, estas pessoas não tem a menor idéia da quantidade de energia que coloco nos meus projetos, como mobilizo recursos e, especialmente, como consigo reunir pessoas boas ao meu redor para me ajudar. É bem possível que eu consiga fazer o que pretendo gastando menos e em menos tempo do que esperado, mas para isso eu primeiro preciso entender todas as partes do problema. Um passo de cada vez.

São dois os assuntos recorrentes até o momento: tamanho do barco e material. Os custos de construção sobem exponencialmente com o tamanho do barco, portanto é necessário encontrar um projeto que seja bem resolvido, eficiente e seguro.

A minha maior preocupação é um pouco anterior e está relacionada com o tamanho máximo que um barco pode ser manobrado/velejado sozinho e em segurança. As respostas variam bastante, e para a minha surpresa recebi uma reportagem sobre um senhor de 76 anos que está velejando sozinho um veleiro de 63 pés! Vejam só: http://www.sailfeed.com/2013/12/stanley-paris-his-geriatric-circumnavigation/ e http://stanleyparis.com/ Bem, um veleiro deste tamanho e com os recursos que ele embarcou estão completamente fora de cogitação, mas serve de exemplo para provar que não há limites claros de idade e tamanho para velejar sozinho.

Para limitar a minha busca por projetos, resolvi, depois de trocar muitas mensagens, que devo limitar o tamanho para o intervalo 35-50 pés. Por quê? Diferentes projetos possuem diferentes soluções. Um pode ser menor, mas ter o espaço interno melhor resolvido que outro maior. A regra é manter o tamanho menor possível, sem perda de eficiência, segurança e conforto.

Depois de limitar o tamanho, o próximo passo e resolver o material de construção. Eu estava (e ainda estou) decidido pelo aço pelos motivos que já apresentei. Mas tenho recebido tantas mensagens sobre a construção em alumínio que estou avaliando um pouco melhor.

Por hoje é isso. Estou morto, pois velejei a tarde toda. Ventou muito, por volta de 20 nós! 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Continuando a aquecer.

Resolvi iniciar algumas threads de discussão em fóruns de discussões especializados em vela e construção de barcos. A cooperação e o compartilhamento de informações é impressionante. É claro que existem os pessimistas, aqueles que desaconselham a construção amadora, também pudera, o número de projetos que acaba morrendo no meio do caminho é muito maior do que aqueles que são finalizados. Li alguns comentários de pessoas que estão construindo os seus barcos há mais 10, 20 e até mesmo 30 anos! A grande maioria, porém, ou termina em até 4-5 anos ou abandona. Existem pessoas no Brasil que estão construindo seus próprios barcos, em fazendas, sítios ou em galpões. Será que a cultura do faça você mesmo está chegando de vez e para ficar por aqui?

Depois de explicar para alguns o motivo pelo qual eu pretendo construir e não comprar, detalhar o processo de importação, as limitações e os custos associados, a maioria das pessoas simplesmente não entende como é possível viver no Brasil.

Durante as minhas conversas, recebi de pessoas experientes, algumas na sua 2ª ,3ª ou até mesmo 5ª volta no globo, várias sugestões de arquitetos navais pelo mundo a fora. A maioria na Europa. Cada projeto mais interessante do que o outro. Será difícil fazer uma lista de 5 ou 6 projetos para estudar mais profundamente.
Aos pouquinhos é possível identificar os bairrismos. Americanos não gostam de gostam veleiros com casco de metal (alumínio e aço), enquanto os Europeus os preferem. Continuo com a opinião de que aço é melhor do que os demais materiais, apesar de que alguns tentaram me convencer de que alumínio é tão seguro quanto.

Enfim, os motivos pelos quais eu não opto pelo alumínio (além daqueles que já expus em outro post) são os mesmos por não optar pela fibra de fibra: segurança e durabilidade. Enquanto o primeiro material está sujeito à eletrólise, o segundo pode sofrer osmose. Nos dois casos o casco simplesmente perde a sua integridade. Além disso, na hipótese de colisão, dificilmente o casco de aço é rasgado, perfurado ou de outra forma comprometido. O que não se pode dizer dos outros dois. A contrapartida é o maior peso. Mas isso não é um problema, vez que priorizo segurança e não velocidade.    

Além das discussões, devo em paralelo começar a analisar os diferentes tipos de mastreação (rig), tais como schooner, ketch, cutter, sloop. Cada uma com suas particularidades.

Boa noite,     

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Aquecendo

Ontem mesmo, depois de ler o post, um amigo, o Marcelo Chiavassa, já me sugeriu o lugar do curso de mergulho. Depois de fazer algumas buscas na Internet, fiquei impressionado com a quantidade de habilitações disponíveis. Cada uma com pré-requisitos próprios e, em alguns casos, com dependência. Céus! Todavia, como não pretendo ser um profissional, apenas poder aproveitar um pouco mais e "safar a onça" quando tiver que procurar comida ou realizar vistorias e reparos, não acredito que precisarei de muita coisa.

Comecei a estudar projetos navais, me acostumar com a técnica envolvida nos projetos e os prós e contras de cada nuance. Conforme disse antes, tenho alguns requisitos mínimos, o que por si só já limitam os projetos e, até mesmo, o tamanho. Com relação a este último tópico, não parece haver consenso entre os velejadores, mesmo os mais experientes. Ao que tudo indica, tamanho está diretamente relacionado com o tipo de navegação preponderante (águas abrigadas, costeira, cruzeiro offshore), organização interna do espaço, número de passageiros/tripulantes que dormirão a bordo, facilidade de manobra (principalmente em porto e com mau tempo) e por ai vai. De toda forma, o tamanho é limitado pelo orçamento!

Parece-me que, o ideal (e mais econômico) seria construir o próprio barco, começando do zero. Isto permite não apenas a familiarização com o projeto, localização das instalações e outras coisitas mais, mas, o mais importante, controlar os custos. Um barco comercial tende a ser algumas vezes mais caro do que um barco feito "em casa". Numa rápida busca, encontrei sites com relatos de pessoas que construíram os seus próprios em apenas alguns meses, em madeira, fibra, aço ou alumínio.     

No Brasil, encontrei algumas referências interessantes sobre projetistas navais. O que mais me atraiu até o momento foram os projetos do Roberto Barros ("Cabinho") (http://www.yachtdesign.com.br) com quilha retrátil entre 39 e 50 pés. No exterior, gostei muito dos projetos do Bruce Roberts (http://www.bruceroberts.com) e do escritório Van de Stadt Design (http://www.stadtdesign.com), e mesmo os de tamanho menor parecem ter soluções bem interessantes. Surpreendentemente os projetos (o jogo de plantas) não são "absurdamente" caros. Com menos de USD 5.000,00 é possível comprar um projeto completo, com todos os desenhos e especificações. Em alguns casos, até mesmo as peças de aço já cortadas, facilitando muito o trabalho. De qualquer forma, ao que parece, independentemente do projeto escolhido, o maior desafio é o amadorismo na construção, o que acaba por desvirtuar e prejudicar o projeto inicial. Resultados como sobrepeso e falta de simetria não são raros. Para completar, duas listas interessantes com designers ao redor do mundo: http://www.yachtforums.com/forums/yacht-links-lists/4872-list-yacht-designers-naval-architects.html e http://sailboatdata.com/designerlist_2rows.asp 

Vi também alguns cursos básicos de solda em aço, ministrados pelo SENAI, e me parecem ser uma boa e barata opção. Com relação à este tópico, ainda tenho algumas considerações. 

O aço utilizado na construção de barcos é três vezes mais pesado do que o alumínio para a mesma finalidade. Até ai tudo bem. Porém, existem atualmente algumas ligas de aço, mais leves, mais resistentes e com melhor durabilidade à corrosão. 

Tentar reduzir o peso do barco (sem alterar a espessura do aço) mediante alteração na liga do aço tem seus pontos a favor e contra. Primeiro os coeficientes calculados pelo projetista levam em conta um determinado esperado, com alguma margem. Reduzir muito o peso pode implicar em desconformidade, para evitar isto é necessário interagir com o projetista. Segundo, pode ficar mais difícil encontrar mão-de-obra, equipamento e partes sobressalentes necessárias nos trabalhos de manutenção e reparo. Terceiro, o custo, por se tratar de uma liga não tradicional, pode ser aumentado. É o que consigo vislumbrar no momento. Por outro lado, reduzir o peso pode resultar em alguns ganhos, como possibilitar melhor revestimento termo-acústico, o que é importante para não forçar os equipamentos, a máquina de climatização e não aumentar o consumo de energia elétrica.

A solução de cockpit central me atrai bastante, pois permite melhor aproveitamento do espaço interno bem como uma disposição mais atraente das cabines e da área de convívio. Acho que fiquei muito impressionado com a disposição do O'Day 37, que foi um dos precursores neste tipo de solução. De qualquer forma, não é uma solução para qualquer tamanho de barco. Barcos mais curtos ficam esquisitos com cockpit central e a alocação de espaço interno e a movimentação ficam prejudicadas. Portanto, se por algum motivo eu abandone esta exigência ao optar por um barco menor, serei forçado a adotar o cockipt de popa. 

Qualquer um que já tenha dormido em alto-mar, especialmente numa cabine de proa, sabe o que estou tentando evitar. O balanço do barco é bastante desconfortável para dormir na proa, especialmente durante o mal tempo. Dorme-se pouco e mesmo os mais resistentes acabam ficando mareados, levando a exaustão e, por conseguinte, perda de atenção, enfraquecimento e por ai vai. Na popa é mais tranquilo enquanto que no centro, onde serão feitas as refeições, o movimento é bem menor aumentando o conforto. 

Outro ganho importante: afastar a cabine dos passageiros da proa e reduzir o seu tamanho disponibilizam um espaço precioso para armazenar velas, escotas e vários outras coisas e, até mesmo, dependendo do tamanho do espaço, uma pequena oficina abrigada. 

Todavia a decisão não é tão simples. Existem alguns contras em ter um cockpit central. Por exemplo, na manobra de atracação a visão da popa é bastante ruim; as velas podem atrapalhar a visão da proa ao navegar; o acesso para as fainas no mar pode ser prejudicado. 

Das minhas exigências iniciais ainda falta tecer comentários sobre três: pilot house, velocidade mínima no motor e quilha móvel.

O pilot house, além de permitir melhor organização e proteção dos instrumentos, que não são nada baratos e podem pifar/estragar, possibilita navegação confortável durante o mal tempo, mantendo abrigo quente e, porque não, seco. Conforto é muito importante quando se está sozinho, no meio do oceano, distante da costa e da cama quente e seca mais próxima. Vi algumas soluções cujo teto é retrátil, e gostei da proposta.

A velocidade mínima no motor é particularmente importante em algumas situações. O mastro quebrou ou rasgaram-se as velas, ou qualquer outra situação que impeça a navegação com vento, basta ligar o motor, rumar para a terra mais próxima e efetuar os reparos. Ficar a deriva não é uma opção. Para enfrentar ondas, correntes e mal-tempo, é necessário que o motor além de bem construído, tenha potência, baixo consumo e permita navegar com alguma velocidade. 7 nós (1.852 metros por hora) me parece factível, o que permitiria navegar por volta de 311 km em 24 horas. De toda forma, tentarei ao máximo aumentar a velocidade e potência, sem alterar o consumo de diesel (que demanda tanques maiores, afetando o peso e o espaço interno) ou aumentar o espaço necessário para instalar o motor. Tudo isso, é  claro, mantendo o orçamento!

A quilha móvel possui diversas funcionalidades. Aumentar a estabilidade em velocidade e durante o mal tempo, reduzir o arrasto no vento de popa aumentando a velocidade, e reduzir o calado para melhor aproximação. Nem todos os projetos permitem a adoção da quilha móvel, o que reduz ainda mais o meu universo de possibilidades, mas nada como uma conversa com o projetista!     

No quesito quilha móvel, mas na verdade não é, resolvi incluir lemes gêmeos ou quilhas de levantamento na popa (lifting keels), que permitem que o barco fique eu repouso, sem adernar, no seco, como o Stadtship 56, da Van de Stadt. Também já vi projetos conjugando as lifting keels com quilhas também gêmeas tradicionais, como no caso do POP 25 do Cabinho. São particularmente importantes quando a maré vazar rapidamente, ou, por algum motivo, houver deslocamento forçado para um local sem água, como no caso de tempestades. Alguns dizem que tanto os lemes gêmeos, quanto as lifting keels a as quilhas gêmeas acabam por aumentar a complexidade e dificultar a navegação. Acho que preciso analisar com mais detalhe os impactos.

Enfim, estou começando a analisar alguns dos itens da minha lista inicial. É necessário pesar os prós e contras, sempre! Afinal, não terei em quem colocar a culpa se não gostar das soluções adotadas.

Boa noite! 

   

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

An idea is the most resilient parasite: o início do recomeço para começar um antigo projeto não iniciado.

Feliz 2014! Algumas pessoas são adeptas às chamadas resoluções de ano novo e listam o que pretendem fazer e o que querem deixar de fazer no ano que está começando. Ao final do ano fazem o balanço de sua performance. Não sou tão sistemático, mas sou da opinião que o ano seguinte deve ser melhor do que o que terminou. Com ou sem lista.

Bem, dito isso, hoje, dia 1/1/2014, me parece um bom dia para relançar a semente deste projeto, “Aventura de Magalhães”. O nome do projeto em si já dá uma pista do que eu pretendo fazer.

Há alguns anos, mais precisamente por volta de 2001, eu havia decidido velejar mais seriamente. A vida profissional estava bastante boa e permitia alguns excessos. Fui à diversos “boat shows”, passei a comprar revistas especializadas, a conversar mais frequentemente com pessoas que levavam (e levam) a vida no mar e até mesmo a cogitar comprar um barco. Animado, cheguei, inclusive, a pensar a dar a volta ao mundo velejando, sozinho, o que demandaria uma longa preparação. Porém, devido à problemas financeiros, este projeto foi de certa forma esquecido, levado a categoria de sonho distante.

Muita coisa mudou de lá pra cá. Descobri que certos amigos, eram amigos de ocasião ou nunca haviam sido amigos; descobri amigos que nunca pensei que tivesse; passei por momentos difíceis; comecei a comer carne (passei 38 anos sem comer proteína animal, apenas ovo, leite, queijo e manteiga! E também não era vegetariano, vegano ou equivalente); obtive outra graduação e outra pós-graduação; fiz novos amigos; comecei e terminei vários projetos; me aventurei pelo Brasil, em grande parte a trabalho.

Enfim, a vida continuou e o futuro deixou de ser o dia seguinte e passou a ser a semana seguinte e aos poucos o horizonte de tempo foi aumentando, me permitindo ver com mais clareza e planejar, mesmo correndo o risco de o tempo engavetar definitivamente este projeto. Afinal, aos quase 43 anos, fica cada vez mais improvável conseguir fazer algo tão intrépido com o avançar da idade. O corpo e a mente vão se distanciando. A mente não é mais tão rápida e eficiente e o corpo vai ficando cada vez menos obediente e mais teimoso.

Alguns podem discordar de mim, usando exemplos de pessoas com 60 ou mesmo 70 anos que fizeram façanhas parecidas ou até mesmo mais arriscadas e demandantes, mas elas são exceções. Outras devem estar se perguntando o que trouxe de volta o interesse neste projeto. Na verdade, não acho que existe uma resposta. O que leva alguém a atravessar o Atlântico a remo, a escalar uma montanha, a se aventurar pelo Ártico ou a participar de uma expedição na África? A minha resposta (se é que pode ser chamada assim), na verdade, é um processo decorrente de várias situações e do amadurecimento pessoal, e não de um clique. Se bem que eu levantei um dia e disse: hoje comerei carne. Levei minha decisão à cabo mesmo tendo escutado a vida inteira que era alérgico. Atualmente não vivo sem carne vermelha ou frutos do mar.

Estou cada vez mais insatisfeito com a qualidade de vida das cidades; menos crente com a vida em sociedade "at large"; incrivelmente descontente com o Brasil e seus governantes e, mais ainda, com a falta de mudanças; e mais interessado em abrir novos horizontes, descobrir, viver e entender.

Costumo dizer que vivemos menos que um grego antigo ou romano da época do Império, apesar de termos expectativa de vida maior. Pois bem, acho que passei a querer viver mais, mesmo que exista o risco de ter a vida encurtada. Ainda há tempo de fazer uma média entre viver 100 anos a 10 e viver 10 anos a 100.

Acredito que o tempo foi preponderante na minha decisão. Ele foi responsável por amadurecer e catalisar os elementos necessários que, somados as situações acima e experiências de vida, me levaram a decidir por esta aventura.

Acho que o primeiro elemento formador desta resposta é o desenvolvimento da capacidade de gerenciar adversidades pessoais e situações, no mínimo, complexas. Em alguns casos, um mal menor no presente em troca de um bem maior no futuro é a opção a ser seguida. O difícil é optar por esta decisão. É necessário estar muito além da zona de conforto para considera-la. Do meu ponto de vista, apenas situações pessoais difíceis e limites, como as que eu passei com a minha família, abrem esta via decisória.

Somando-se ao primeiro, é preciso dizer que gosto de ficar sozinho, de dialogar por horas em silêncio unicamente com a minha voz interior. Não é algo tão simples, principalmente quando a cada segundo somos invadidos por solicitações, telefonemas, mídia e etc. Não confundir com solidão, por favor! Não sou eremita, mas gosto muita da minha própria companhia, de ler um bom livro, de ouvir música no escuro, de pescar, andar sozinho, observar e por ai vai.

Mais um que complementa os dois anteriores: a capacidade de avaliar os problemas e situações em terceira pessoa. Isto me permite tolerar por mais tempo situações limites. Não sou imune a elas e como qualquer outra pessoa tenho ponto de ruptura.

Complementando os três anteriores, saber tratar riscos e adversidades com naturalidade. É uma maneira de encarar a vida. Pra mim, um avião não pousa, ele cai controladamente. Para muitos, admitir que o avião está caindo e não pousando, é desesperador, apesar de ser uma verdade. Viver é um risco e andar - o mero colocar um pé na frente do outro - é uma situação de desequilíbrio. Um erro de cálculo e você cai.

Gostar de aprender e, mais ainda, aceitar o aprendizado, é outro elemento importante. Se quisermos e estivermos dispostos a aceitar, a vida é a nossa melhor escola, possivelmente a mais custosa se não tomarmos os devidos cuidados. Realizar uma viagem como esta pressupõe muito aprendizado, tanto antes, quanto durante e, mais ainda, depois. Ninguém, digo ninguém, sai de um projeto como este da mesma forma que entrou. Os valores mudam, a percepção situacional muda, tudo muda. 

Precisarei estudar, e muito, para me preparar, para evoluir até o ponto de poder realizar uma viagem como esta, no menor custo possível e em segurança. Afinal, tempo e dinheiro, são recursos escassos e, ao contrário do segundo, o primeiro não pode ser obtido novamente, sendo a finitude da vida constantemente determinada por nossas decisões, mesmo pequenas. 


Neste percurso a teoria e a preparação prévia serão as minhas melhores aliadas. Não quero ter que aprender a reparar o casco do barco em alto-mar, fazendo água, ou, ainda, trocar as velas do motor, no meio da tempestade. Só se prepara quem aprende e a teoria é o aprendizado de outros que encararam o problema (ou a situação) antes de nós.
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Escuto constantemente absurdos como “a teoria não serve pra nada” e “a minha profissão é prática e não teórica”. São argumentos para negar a possibilidade de evolução própria, pois evoluir envolve compromissos e riscos. Terei que desenvolver habilidades de marinheiro, mergulhador, soldador, técnico de eletrônica, cozinheiro, enfermeiro e várias outras, ainda não sabidas. Para o bem e para o mal.  

Outro igualmente importante, gosto de desafios. Se me disserem que é difícil, que não vou conseguir ou algo remotamente parecido, parece que um “botão de nitro” dentro de mim é acionado. Meus níveis de energia e determinação são aumentados consideravelmente. Não é por menos que já desenvolvi projetos em diversos setores, desde mercado financeiro até mineração, passando por tecnologia, Internet, marketing, energia, logística e construção civil. Quanto maior o desafio, maior a energia e determinação que passo a ter disponível para vencer obstáculos.

Por último e talvez o mais imprescindível, sou ligado ao mar. Nascido e criado no Posto 5, em Copacabana, desde pequeno passava grande parte do ano no mar. Pescando, pegando onda, mergulhando, saindo para alto-mar com o meu já falecido amigo, Adelmar, o Morango, ou recebendo lições de meteorologia e surfe de peito do também já falecido Carlos, o Alemão. Esta ligação está um pouco frágil, confesso, pois atualmente moro em São Paulo, e o "mar" mais próximo é a represa de Guarapiranga. Logo, preciso me reaproximar, voltar a ter a intimidade de outrora.

Admitindo que, de fato, eu esteja apto, agora é possível começar a pensar no que fazer. Antes, porém, existem algumas pré-condições para que este projeto seja concluído. Algumas destas são pessoais, outras profissionais.

Nunca é demais mencionar que não estou entrando de bobo ou sonhador neste projeto. Fui militar, sou oficial da reserva da Marinha do Brasil, aprendi a navegar e passei algum tempo embarcado em viagens de instrução pelo Brasil. Se a vida num navio de guerra não é fácil, especialmente quando existe um grupo para suprir as deficiências individuais, imagine uma viagem num veleiro, sozinho comigo mesmo, acompanhado unicamente dos meus demônios internos.

Continuando, antes de qualquer coisa precisarei saldar compromissos assumidos e encerrar situações. Neste mesmo sentido, será necessário finalizar e entregar projetos. Enfim, arrumar a casa antes de zarpar. "On the top of that", começar pelo começo é um bom ponto de partida. Vamos lá.

1- Velejar bem, sozinho, veleiros de casco único entre 26 e 32 pés.

2- Tirar a habilitação de capitão-amador (já tenho mestre amador, mas preciso renovar).

3- Saber mergulhar bem (com equipamentos e em maior profundidade, até 20-30 metros), efetuar reparos (casco, motor, eletrônicos, velas, e etc.), primeiros socorros, sobreviver em alto-mar, meteorologia, navegar (satélite e astronômica).

Essas três primeiras etapas dependem basicamente de tempo e de muito pouco dinheiro, mas nada elevado, pois existem cursos gratuitos. Gostaria, também, de fazer um curso de fotografia para poder registrar bem as minhas experiências e transformá-las em memória e informação para os meus filhos, especialmente o mais velho que será biólogo e tem grande interesse pela natureza.

Superadas as etapas iniciais, porém indispensáveis, o bicho começará a pegar, pois será necessário:

1- Selecionar o projeto do veleiro.

2- Construir e equipar.

3- Regularizar.

4- Viver a bordo, para me adaptar aos espaços e limitações.

5- Realizar travessias mais curtas.

6- Escolher o roteiro da viagem.

7- Realizar os preparativos.

Fácil, né? Além do desafio, para isso é necessário o vil metal e tempo. Portanto, não é difícil deduzir que se trata de um projeto, no mínimo, de médio prazo (2-4 anos), isso se eu não tiver nenhum acidente de percurso, o que me forçará a reavaliar.    

Como todo projeto, mesmo não sabendo todas as etapas e os recursos que cada uma demandará, é indispensável ter uma data de término para não virar obra de igreja. Zarpar até o preamar da manhã do dia 1/1/2018 me parece uma boa data. Exatos 4 anos de hoje, quando estarei com 47 anos incompletos, o que não impede de eu tentar encurtar ou até mesmo postergar por algum motivo.

Nessa data, meus projetos atuais já terão maturado ou de uma forma ou de outra terminados; meu filho mais velho estará perto de concluir a graduação no ensino superior; o meu filho mais novo estará no ensino médio e, se tudo correr bem e o mundo não acabar, a vida estará estabilizada.

A boa notícia é que na semana passada eu voltei a velejar, ou seja, o projeto começou com alguns dias de crédito. Atualmente estou alternando entre dingue, holder e laser, o que aumenta a sensibilidade, para depois migrar para os  veleiros de dois cascos, entre 14 e 17 pés, mas que possam ser velejados solo. Só depois irei para os veleiros de casco único, começando pelo de 26 pés até chegar os maiores, de 40-50 pés. Ainda não sei ao certo qual será o tamanho da minha futura casa, mas pelo que li tudo é possível  entre 26 e 50 pés, dependendo unicamente do orçamento. As únicas exigências que por enquanto tenho são: casco de aço, cockpit central, pilot house, quilha retrátil e velocidade mínima de cruzeiro no motor de 7 nós.  

Pretendo atualizar este blog com alguma periodicidade, ainda não sei qual, mas com certeza não será bissexta.

Mais uma vez, um feliz 2014!!