quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Aquecendo

Ontem mesmo, depois de ler o post, um amigo, o Marcelo Chiavassa, já me sugeriu o lugar do curso de mergulho. Depois de fazer algumas buscas na Internet, fiquei impressionado com a quantidade de habilitações disponíveis. Cada uma com pré-requisitos próprios e, em alguns casos, com dependência. Céus! Todavia, como não pretendo ser um profissional, apenas poder aproveitar um pouco mais e "safar a onça" quando tiver que procurar comida ou realizar vistorias e reparos, não acredito que precisarei de muita coisa.

Comecei a estudar projetos navais, me acostumar com a técnica envolvida nos projetos e os prós e contras de cada nuance. Conforme disse antes, tenho alguns requisitos mínimos, o que por si só já limitam os projetos e, até mesmo, o tamanho. Com relação a este último tópico, não parece haver consenso entre os velejadores, mesmo os mais experientes. Ao que tudo indica, tamanho está diretamente relacionado com o tipo de navegação preponderante (águas abrigadas, costeira, cruzeiro offshore), organização interna do espaço, número de passageiros/tripulantes que dormirão a bordo, facilidade de manobra (principalmente em porto e com mau tempo) e por ai vai. De toda forma, o tamanho é limitado pelo orçamento!

Parece-me que, o ideal (e mais econômico) seria construir o próprio barco, começando do zero. Isto permite não apenas a familiarização com o projeto, localização das instalações e outras coisitas mais, mas, o mais importante, controlar os custos. Um barco comercial tende a ser algumas vezes mais caro do que um barco feito "em casa". Numa rápida busca, encontrei sites com relatos de pessoas que construíram os seus próprios em apenas alguns meses, em madeira, fibra, aço ou alumínio.     

No Brasil, encontrei algumas referências interessantes sobre projetistas navais. O que mais me atraiu até o momento foram os projetos do Roberto Barros ("Cabinho") (http://www.yachtdesign.com.br) com quilha retrátil entre 39 e 50 pés. No exterior, gostei muito dos projetos do Bruce Roberts (http://www.bruceroberts.com) e do escritório Van de Stadt Design (http://www.stadtdesign.com), e mesmo os de tamanho menor parecem ter soluções bem interessantes. Surpreendentemente os projetos (o jogo de plantas) não são "absurdamente" caros. Com menos de USD 5.000,00 é possível comprar um projeto completo, com todos os desenhos e especificações. Em alguns casos, até mesmo as peças de aço já cortadas, facilitando muito o trabalho. De qualquer forma, ao que parece, independentemente do projeto escolhido, o maior desafio é o amadorismo na construção, o que acaba por desvirtuar e prejudicar o projeto inicial. Resultados como sobrepeso e falta de simetria não são raros. Para completar, duas listas interessantes com designers ao redor do mundo: http://www.yachtforums.com/forums/yacht-links-lists/4872-list-yacht-designers-naval-architects.html e http://sailboatdata.com/designerlist_2rows.asp 

Vi também alguns cursos básicos de solda em aço, ministrados pelo SENAI, e me parecem ser uma boa e barata opção. Com relação à este tópico, ainda tenho algumas considerações. 

O aço utilizado na construção de barcos é três vezes mais pesado do que o alumínio para a mesma finalidade. Até ai tudo bem. Porém, existem atualmente algumas ligas de aço, mais leves, mais resistentes e com melhor durabilidade à corrosão. 

Tentar reduzir o peso do barco (sem alterar a espessura do aço) mediante alteração na liga do aço tem seus pontos a favor e contra. Primeiro os coeficientes calculados pelo projetista levam em conta um determinado esperado, com alguma margem. Reduzir muito o peso pode implicar em desconformidade, para evitar isto é necessário interagir com o projetista. Segundo, pode ficar mais difícil encontrar mão-de-obra, equipamento e partes sobressalentes necessárias nos trabalhos de manutenção e reparo. Terceiro, o custo, por se tratar de uma liga não tradicional, pode ser aumentado. É o que consigo vislumbrar no momento. Por outro lado, reduzir o peso pode resultar em alguns ganhos, como possibilitar melhor revestimento termo-acústico, o que é importante para não forçar os equipamentos, a máquina de climatização e não aumentar o consumo de energia elétrica.

A solução de cockpit central me atrai bastante, pois permite melhor aproveitamento do espaço interno bem como uma disposição mais atraente das cabines e da área de convívio. Acho que fiquei muito impressionado com a disposição do O'Day 37, que foi um dos precursores neste tipo de solução. De qualquer forma, não é uma solução para qualquer tamanho de barco. Barcos mais curtos ficam esquisitos com cockpit central e a alocação de espaço interno e a movimentação ficam prejudicadas. Portanto, se por algum motivo eu abandone esta exigência ao optar por um barco menor, serei forçado a adotar o cockipt de popa. 

Qualquer um que já tenha dormido em alto-mar, especialmente numa cabine de proa, sabe o que estou tentando evitar. O balanço do barco é bastante desconfortável para dormir na proa, especialmente durante o mal tempo. Dorme-se pouco e mesmo os mais resistentes acabam ficando mareados, levando a exaustão e, por conseguinte, perda de atenção, enfraquecimento e por ai vai. Na popa é mais tranquilo enquanto que no centro, onde serão feitas as refeições, o movimento é bem menor aumentando o conforto. 

Outro ganho importante: afastar a cabine dos passageiros da proa e reduzir o seu tamanho disponibilizam um espaço precioso para armazenar velas, escotas e vários outras coisas e, até mesmo, dependendo do tamanho do espaço, uma pequena oficina abrigada. 

Todavia a decisão não é tão simples. Existem alguns contras em ter um cockpit central. Por exemplo, na manobra de atracação a visão da popa é bastante ruim; as velas podem atrapalhar a visão da proa ao navegar; o acesso para as fainas no mar pode ser prejudicado. 

Das minhas exigências iniciais ainda falta tecer comentários sobre três: pilot house, velocidade mínima no motor e quilha móvel.

O pilot house, além de permitir melhor organização e proteção dos instrumentos, que não são nada baratos e podem pifar/estragar, possibilita navegação confortável durante o mal tempo, mantendo abrigo quente e, porque não, seco. Conforto é muito importante quando se está sozinho, no meio do oceano, distante da costa e da cama quente e seca mais próxima. Vi algumas soluções cujo teto é retrátil, e gostei da proposta.

A velocidade mínima no motor é particularmente importante em algumas situações. O mastro quebrou ou rasgaram-se as velas, ou qualquer outra situação que impeça a navegação com vento, basta ligar o motor, rumar para a terra mais próxima e efetuar os reparos. Ficar a deriva não é uma opção. Para enfrentar ondas, correntes e mal-tempo, é necessário que o motor além de bem construído, tenha potência, baixo consumo e permita navegar com alguma velocidade. 7 nós (1.852 metros por hora) me parece factível, o que permitiria navegar por volta de 311 km em 24 horas. De toda forma, tentarei ao máximo aumentar a velocidade e potência, sem alterar o consumo de diesel (que demanda tanques maiores, afetando o peso e o espaço interno) ou aumentar o espaço necessário para instalar o motor. Tudo isso, é  claro, mantendo o orçamento!

A quilha móvel possui diversas funcionalidades. Aumentar a estabilidade em velocidade e durante o mal tempo, reduzir o arrasto no vento de popa aumentando a velocidade, e reduzir o calado para melhor aproximação. Nem todos os projetos permitem a adoção da quilha móvel, o que reduz ainda mais o meu universo de possibilidades, mas nada como uma conversa com o projetista!     

No quesito quilha móvel, mas na verdade não é, resolvi incluir lemes gêmeos ou quilhas de levantamento na popa (lifting keels), que permitem que o barco fique eu repouso, sem adernar, no seco, como o Stadtship 56, da Van de Stadt. Também já vi projetos conjugando as lifting keels com quilhas também gêmeas tradicionais, como no caso do POP 25 do Cabinho. São particularmente importantes quando a maré vazar rapidamente, ou, por algum motivo, houver deslocamento forçado para um local sem água, como no caso de tempestades. Alguns dizem que tanto os lemes gêmeos, quanto as lifting keels a as quilhas gêmeas acabam por aumentar a complexidade e dificultar a navegação. Acho que preciso analisar com mais detalhe os impactos.

Enfim, estou começando a analisar alguns dos itens da minha lista inicial. É necessário pesar os prós e contras, sempre! Afinal, não terei em quem colocar a culpa se não gostar das soluções adotadas.

Boa noite! 

   

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